Saturday, January 31, 2009

Rilke - as Elegias de Duíno


A poesia é um território de misterios. E de mensagens codificadas que só os menos distraídos conseguem ler. É um torneio entre quem sente que o sangue lhe aquece demasiado as veias e quem tenta afastar o véu com que as palavras se escondem do sentido normal. Se o coração do mundo fosse feito de palavras a poesia seria uma religião. A úlima fronteira entre o que adivinhamos e aquilo que supomos poder existir. Rainer Maria Rilke é um dos maiores poetas deste século. Não é uma condecoração, é um heroísmo que dispensa foguetes. Ler As Elegias de Duíno é sentir que quando um poeta chega ao cuma da interrogação o segredo não se reparte. E a poesia de Rilke é feita de segredos que não têm chave para serem mostrados.

Aqui, nesta obra que começou a escrever em 1912, no Castelo de Duíno, junto a Trieste, e que só terminará uma década mais tarde, ele discorre sobre aquele que é o seu tema de sempre : as relações da vida com a morte. A sua ligação, como se a um mundo que percorremos correspondesse um outro – invisível – que é a consequência lógica. Em Rilke encontramos, como em muito poucos outros, a fúria da distância – o que separa os seres humanos das coisas que os cercam, e fundamentalmente uns dos outros.

Nós porém, quando tendemos inteiramente para Uma coisa logo sentimos o excesso de outra, A inimizade é-nos prôxima. Os próprios amantes que um ao outro se prometiam imensidão, coutada e pátria, não deparam constantemente com limites ?

A vida é então um conjunto de muitos segredos que se gerem, até que sejamos chamados sabe-se lá para onde (outro mistério). A poesia de Rilke desnuda-nos os limites do homem na sua fúria de viver sem sentido. A felicidade nunca poderia morar aqui. Rilke se deve ler quando o vento faz cair as folhas das árvores. Todas as certezas do mundo.

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