Numa manhã cinzenta de inverno
Acordei sem uma metade de mim...
Na verdade, a cada dia era um pedaço
Que ia sendo arrancado
Me mutilando aos poucos
Aquela metade estava se soltando do meu corpo
Queria ter um corpo próprio
Um corpo que só pertencesse a ela
Eu sentia sim, as dores daquela mutilação
Tão lenta, quase como uma tortura
Tentava de todas as formas
Resgatar os pedaços
Colar os cacos
Que lentamente se desprendiam de mim
Não consegui...
Após aquela separação
Aquela divisão tão dolorosa
A metade que se foi
Tornou-se inteira, plena
Livre daquela prisão
E eu era agora apenas uma metade
Eu era a metade que restou...
Precisava me preencher de mim mesma
Mas onde estavam aqueles pedaços
Que fui perdendo ao longo da vida?
Agora estou a procura
De tantos pedaços que perdi
Ninguém pode me ajudar a encontrá-los
Só eu mesma...
Preciso lembrar onde os deixei
Preciso resgatá-los
Colá-los novamente ao meu corpo
É como um quebra-cabeças
Luto para encaixar cada peça
Que vou encontrando, descobrindo
E que estão perdidas dentro de mim
Mas a cada procura, a cada achado
Vou pouco a pouco preenchendo os vazios
Encaixando os pedaços...
Agora de uma coisa tenho certeza:
Aquela metade que se foi
Está hoje misturada a um novo ser
Que levará para sempre consigo
Os pedaços que perdi...
Isabela Khoury
No comments:
Post a Comment